“Discípulos missionários a serviço das vocações”

“Discípulos missionários a serviço das vocações”

III CONGRESSO VOCACIONAL DO BRASIL

Tema: “Discípulos missionários a serviço das vocações”

Lema: “Ide, pois, fazer discípulos entre as nações” (cf. Mt 28,19)

Indaiatuba, Itaici, 03 a 07 de setembro de 2010

 

 

A vocação e a missão dos discípulos de Jesus



         Texto-base do 3º Congresso Vocacional do Brasil, marcado para setembro de 2010, está sendo elaborado por alguns teólogos indicados pela comissão executiva do congresso. Lema: "Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações" (Mt 28,19).


         OS dois congressos vocacionais precedentes também buscaram um texto evangélico para iluminar e enriquecer a reflexão. Às vésperas do Jubileu, que celebrou a virada do milênio, refletiu-se sobre a vocação de Bartimeu, adotando como lema do 1 º Congresso a frase do evangelho de Marcos: "Coragem! Levanta-te, Ele te chama" (Mc 10,49b). O 2º Congresso Vocacional escolheu a parábola dos trabalhadores enviados à vinha, do evangelho de Mateus, para meditar a temática das vocações e ministérios a partir do lema: '!Ide também vós para a minha vinha!"(Mt 20,4).


         Percebemos nestes congressos, mais do que uma clara base bíblica, o desejo de avançar na reflexão em busca de uma com preensão ampla e aberta da temática vocacional e ministerial na Igreja, comunidade de chamados e enviados. E no 3º Congresso Vocacional, dentro desta dinâmica, a re flexão seguirá novamente Mateus (28,19) para aprofundar o tema: "Discípulos-missionários a serviço das vocações".


Vocação e missão dos discípulos de Jesus.


          Na Bíblia toda vocação é para a missão e esta pressupõe um chamado: a vocação. Do contrário, a vocação seria algo estéril, fechada em si mesma, sem comunhão e consequências em prol do reino e de sua justiça. Também não podemos reduzir a missão a uma tarefa posterior ao chamado ou a uma simples dimensão da vocação. A missão não é um acréscimo ou extensão da vocação, mas um componente essencial quer seja ela leiga, religiosa ou sacerdotal. A missão faz parte do DNA de toda e qualquer vocação.


         A vocação tem origem divina: Deus é quem toma a iniciativa e nos chama desde a sua gratuidade. O chamado é graça e o envio também. Tanto a vocação quanto a missão nunca visam o bem pessoal do vocacionado, mas de todo o povo de Deus. A verdadeira vocação e missão não são graças apenas para as pessoas escolhidas, mas para muitos, conforme dizia Jesus referindo-se a sua própria vocação e missão:


"O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por muitos" (Mt 20,28).


Vocação e missão: dois lados da mesma moeda.


        Um autêntico serviço de animação vocacional é antes de tudo uma ação evangelizadora e genuinamente missionária. Nos evangelhos, aquele que chama é o mesmo que envia. Tal realidade confirma que vo cação e missão são partes de um binômio inseparável e complementar. Ou, como diz a expressão popular: são dois lados de uma mesma moeda. Lados distintos, cada um com suas características próprias, mas partes de uma realidade inseparável, onde uma pressupõe a outra.
        Na prática, a distinção entre a vocação e a missão é mais de caráter pedagógico que real. Isto significa que precisamos ficar atentos para evitar certas expressões, como aquelas que escutamos ao falar da "dimensão missionária da vocação". Pois a missão não é uma simples "dimensão", mas elemento constitutivo da identidade de toda vocação e parte integrante do ser viço de animação vocacional.



A identidade missionária da Igreja.


      A comunidade dos discípulos de Jesus é essencialmente missionária. A missão faz parte da própria natureza e identidade da Igreja.


      É impossível pensar numa Igreja não missionária ou indiferente à missão. A comunidade dos seguidores de Jesus existe para a missão e dela procede. Por isso, podemos afirmar com segurança que todas as vocações e ministérios também são de natureza missionária e se fundamentam na missão de Jesus Cristo e do Espírito Santo.


        De acordo com uma antiga tradição, o termo "Igreja" encontra sua raiz no livro do Deuteronômio para indicar a comunidade de Javé (d. Dt 23,2ss. = "assembléia de Iahweh)". Segundo o evangelho de Mateus, a Igreja é a comunidade dos chamados e enviados para dar testemunho do reino e da sua justiça. Mateus é o único evangelista a adotar o termo "Igreja" ao se referir à comunidade dos seguidores de Jesus Cristo (d. Mt 16,18; 18,17). Por isto é conhecido entre os estudiosos como o "evangelho eclesiástico", onde a comunidade dos discípulos missionários é chama da e enviada por Jesus ressuscitado: "Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19).


        A Igreja é a comunidade dos chamados e enviados para dar testemunho e servir o reino. Os próprios evangelhos que ela proclama são escritos missionários que apresentam a pessoa e o projeto de Jesus Cristo, o reino e a sua justiça. Se de uma parte a Igreja é enviada, de outra ela está sem pre enviando os seus discípulos missionários para o serviço da evangelização.


O binômio vocação-missão.


        Ao tratar do tema da vocação dos discípulos missionários na Bíblia, encontramos um esquema simples e invariável monta do a partir de dois verbos: "chamar" e "enviar".Todo chamado é feito em vista de uma missão, o envio. No Antigo Testamento vemos que Deus criou um povo missionário. Deus chama e envia o povo de Israel para ser o construtor de seu reino. Os grandes vocacionados e vocacionadas da Bíblia não são apenas modelos de pessoas chamadas, mas também são exemplos de missionários e missionárias enviados a proclamar e a construir o reino. Correspondendo ao chamado divino e vivendo os valores do reino, cada membro do povo de Israel assume sua vocação e missão.


        De maneira geral podemos afirmar que no Antigo Testamento Deus é o autor de todos os chamados, enquanto que no Novo Testamento esta função é reservada a Jesus. Porém, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, todos os vocacionados e vocacionadas são envia dos a uma determinada missão.


Não há sequer um único caso onde o tema da vocação apareça desvinculado do envio e da missão.

          Dizer "sim" ao chama do vocacional é o mesmo que acolher a missão ine rente a este chamado. A resposta generosa à proposta vocacional é também um "sim" ao envio para a missão, que em última instância é uma convocação a colaborar na realização do Projeto de Deus. O imperativo missionário não é uma exclusividade do evangelho de Mateus, mas aparece em todos os evangelhos sirr6ticos (cf. Mc 16,15-18; Lc 24,44 48). O chamado de Jesus aos vocacional dos que pescavam no mar da Galileia, a Levi na coletoria de impostos, ao cego Bartimeu na entrada de Jericó, ou a qual quer outra pessoa em qualquer outro lugar, não é apenas um convite ao seguimento, mas é também uma convocação a assumir o projeto do reino e a participar da sua missão (cf. Mc 1,16-20; 10,46-52; Mt 9,9). Independentemente da vocação específica de cada vocacionado, o chamado é sempre em vista da missão seja qual for a situação ou lugar do mundo.



        No quarto evangelho Jesus se apresen ta um grande número de vezes como o enviado do Pai (cf. Jo 5,36.38; 6,29.57; 7,29; 10,36; 11,42; 17,3.8.18; 20,21). Nos evangelhos sinóticos ele diz que "veio - vim fui enviado" ou adota outras expressões equivalentes (cf. Mc 1,38; 2,17; 10,45; 12,2 8; Mt 5,17; 10,34; 11,27; Lc 4,17-21; 9,48; 10,16; 12,49; 19,10).

Nas cartas de Paulo Jesus também aparece como missionário
(cf. Mc 3,13-14 Do Pai, e na carta aos Hebreus ele é chamado de apóstolo (cf. Rm 8,3; 2Cor 8,9; GI4,4; FI 2,7;3,1). No evangelho de Marcos vemos Jesus chamar os discípulos missionários para estarem com ele, inseri-Ios na sua obra e logo os enviar, confirmando as sim a relação entre a vocação/chamado e a missão/ envio. Marcos nos mostra de maneira clara que o encontro pessoal do vocacionado com Jesus é uma exigência que antecede o envio e o serviço missionário).
         A missão dos discípulos de Jesus chamados a transformar a história pessoal e de toda a humanidade, está situada entre a manhã de Pentecostes e a volta gloriosa do Senhor (cf. At 2,1-13). Os discípulos missionários formam a comunidade dos seguidores de Jesus, comprometidos e preparados para a missão de anunciar e construir o reino e sua justiça. Enquanto chamados e enviados por Jesus, os discípulos missionários o representam como verdadeiros embaixadores. O próprio Jesus os chamará de [UTF-8?]“pescadores de [UTF-8?]homens” quando os convida ao seguimento desde as margens do mar da Galiléia (d. Mt 4,19; Mc 1,17).


A iluminação bíblica do 3º Congresso Vocacional.


            O próximo Congresso Vocacional escolheu a passagem bíblica onde encontramos o imperativo missionário de Jesus ressuscitado: "Os onze discípulos caminharam para a Gali1eia, à montanha que Jesus lhes determinara. Ao vê-lo, prostraram-se dian te dele. Alguns, porém, duvidaram. Jesus, aproximando-se deles, falou: Todo poder foi me dado no céu e sobre a terra. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Fi lho e do Espírito Santo. E ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!" (Mt 28,16-20).6.


            Esta passagem do evangelho de Mateus, que iluminará a reflexão do 3º Congresso Vocacional do Brasil, aparece após a cena do túmulo vazio, das aparições às mulheres e da corrupção dos soldados que vigiavam o sepulcro de Jesus. Trata-se de uma cena com tonalidade eclesial-missionária em perfeita harmonia com a totalidade do "evangelho eclesiástico" de Mateus.


        Podemos dividir este texto de Mateus em quatro pequenas partes articuladas entre si: a primeira traz a indicação de voltar à Galileia e se encontrar com o Res suscitado (vv. 16-17). A segunda consiste na solene proclamação de Jesus que recebeu de Deus o poder universal (v. 18). A terceira parte é o imperativo missionário (v. 19). A última parte é a garantia da presença do Ressuscitado junto aos discípulos missionários (v. 20).


a) Galileia: um novo começo:


         Regressar à Galileia é retomar ao co meço para iniciar uma nova caminhada vocacional e missionária com mais consistência e maturidade. Também é um convite a valorizar as próprias raízes, a repensar os projetos e as opções. É um novo chamado vocacional que nos permite re começar com uma nova fé e uma nova esperança. A primeira missão que os discípulos receberam não foi a de realizar uma tarefa e apresentar os resultados, mas a de caminhar ao encontro do Ressuscitado. A experiência com o Ressuscitado toma se, assim, o ponto de partida da atividade missionária. A missão não será outra coisa senão a comunicação desta experiência de encontro com Jesus Cristo vivo na Galileia, lugar da vida e da missão.


b) A autoridade


        Jesus transmite sua autoridade aos discípulos missionários. Eles recebem a autoridade para construir o reino e sua justiça. Trata-se do poder de ser servidores do reino e continuadores da obra de Jesus, que tem autoridade divina e humana, isto é, "no céu" e "na terra". O Ressuscitado dá aos onze discípulos missionários o poder de servir ao reino e nunca usá-lo em beneficio próprio. Eles representam toda a Igreja chamada a servir e a proclamar a vontade de Deus.


c) A missão não conhece fronteiras:


        A missão indicada por Jesus Cristo supera as fronteiras, não exclui nenhum povo e alcança "todas as nações". Os discípulos missionários são enviados não apenas às "ovelhas perdidas de Israel", mas ao mun do inteiro para fazerem discípulos do rei no e da sua justiça. Do mesmo modo que esta missão ultrapassa as fronteiras de Israel, ela também supera os limites do tempo, devendo se estender até "a consumação dos séculos". Quem conduz os discípulos missionários e toda a Igreja é o Espírito Santo.


d) Jesus está com eles


         No final da cena Mateus deixa claro que Jesus ressuscitado é Deus morando no meio de nós para sempre. Os discípulos missionários caminham com a certeza de que aquele que os chamou estará sempre presente no meio deles. Jesus dá todas as garantias aos discípulos de que jamais os abandonará. Ele é o "Emanuel - Deus conosco" - que acompanha seus vocacionados até "a consumação dos séculos".


Missão de todos e de cada um


           Jesus não confiou a missão evangelizadora a Pedro ou a um dos apóstolos, mas aos onze, que representam toda a Igreja chamada a edificar o reino. Porém, são diferentes as maneiras de desenvolver a missão quando consideramos a variedade dos carismas e ministérios suscitados pelo Espírito Santo nas comunidades. Pelo Batismo todos são chamados e convocados à missão. Mas cada vocação específica tem formas próprias de participar da missão evangelizadora da Igreja.


          Os ministros ordenados (diáconos, padres e bispos) dedicam-se totalmente ao serviço evangelizador (d. Presbyterorum Ordinis, 3).A pessoa vocacionada ao ministério ordenado é chamada a se colocar integralmente a serviço da Igreja e de sua causa: a evangelização. Os chamados e chamadas à vida consagrada sabem que sua vocação é essencialmente missionária, uma vez que são testemunhas e anunciadores do reino no meio das realidades do mundo. De igual maneira os cristãos leigos e leigas são convocados a serem "sal da terra e luz do mundo" (Mt 5,13-16). Ou, como afirma o documento de Puebla: "Os cristãos leigos são homens e mulheres da Igreja no coração do mundo, homens e mulheres do mundo no coração da Igreja" (n. 786).


Gilson Luiz Maia Religioso Rogacionista e sacerdote